José Lima e Carlos Lima

A eloquência sensitiva da pintura de Lima

José Lima é um dos maiores pintores sacros da atual geração e uma das grandiosas revelações do Brasil dos nossos dias. Começou a ser notado no Recife, onde foi duas vezes premiado no Salão Anual do Estado e mereceu apreciações por parte de Waldemar de Oliveira, Mário Melo e outros críticos de Arte no Jornal do Comércio, Diário da Noite, Diário de Pernambuco, Folha da Manhã e demais jornais do Estado de Pernambuco. Decorou a Catedral de Patos na Paraíba, cuja nave central mede 220 metros quadrados e duas igrejas no Recife. Há cerca de 6 anos foi detentor no Rio de Janeiro de três prêmios no Salão Nacional de Belas Artes. Tem quadros, interiores de igreja, em galerias particulares nos Estados Unidos e na Inglaterra. A revista Epopeia publicou dois a cores de sua autoria na coleção “Arte Brasileira”, que são: Portaria do Convento de Santo Antônio (premiado no Salão Nacional) e Particular de uma Sala de Visitas, que o consagraram definitivamente como uma das expressões da Pintura no gênero. Atualmente, decora a Matriz de São Januário e Santo Agostinho no Rio de Janeiro, que tem como foro principal com uma área de mais de 600 metros quadrados.

Criações desse jovem pintor – nascido em Altamira – Bahia, que teve a primeira referência a respeito do seu talento publicado neste vespertino, assinado por Oto Bitencourt Sobrinho – são formas de ele transmitir através da religiosidade de suas obras, sensação espiritual, onde a grandiosidade da natureza é estruturada nos seus mínimos detalhes. Os efeitos de reflexividade da luz nas telas de José Lima, assumem tons esplendorosos que se distribuem maravilhosamente na fixidez das suas criações.

Nota-se, ainda, nas obras de Lima, a presença do seu temperamento sensível, transbordante, constantemente em busca do humanismo cristão, evidenciando assim, a sua preocupação pelos problemas que afligem as consciências contemporâneas.

Daí reflorirem nos seus painéis, obras tão profundamente emotivas que, nem mesmo o sedutor e revolucionário impressionismo consegue demovê-lo de sua vocação pictórica, a exemplo do “famoso Piero della Francesca que em plena era pré-renascentista, no seu afã de aperfeiçoar as formas e cores da Pintura, acabara relegando ao plano inferior a presença do fato religioso na Arte”.

Aliás, a transposição dos elementos da Pintura, as silhuetas e contornos generalizantes que a compõem, a fenomenologia de suas imagens, o teto e o solo de seu caráter interiorano são sequências que caracterizam a execução de uma obra, quando o artista a consolida plenamente em seu conjunto harmonicamente de acordo com a concepção estética da Arte. Essa impressão artística sente-se diante dos quadros do pintor baiano e é precisamente nessa fase culminante de excogitação de uma obra d’arte, que José Lima usa surpreendentemente composição de efeitos que harmoniosamente concordam com o conjunto da criação, cuja plasticidade temática transpira atmosfera mística, quase sobrenatural.

Valendo-se, pois, da minúcia entre a sensibilidade humana e a técnica artística, entre a reflexibilidade da iluminação e a caracterologia das imagens, o referido pintor revela as expressões íntimas das figuras, as quais se esquematizam com as formas e feitura da obra e nela se integram. As realizações artísticas de José Lima são, portanto, autênticas obras-primas, dignas de um pintor que a Bahia ora presenteia ao Brasil. A respeito do artista, qualquer desapaixonada análise crítica, ao sopesar o revestimento técnico e a sensibilidade artística de suas criações deverá considerá-lo como um dos mais lídimos intérpretes da Arte Sacra no País, porque, como se sabe: é dentro da rigorosidade analítica que se estuda toda função de fatores técnicos e simbólicos da Pintura tendo-se como base a beleza que ela irradia, pois é na apreciação do belo que se reconhece o valor intrínseco de uma Obra de Arte. E a Arte dos mestres Aldo Mezzedini e Presciliano Silva realiza na vida a comunhão de dois seres que se integram: um transmitindo a ponderabilidade da natureza e outro revelando ao homem o ponto mais sensível de sua consciência. É a reciprocidade dos sentimentos entre o artista e a Arte. Ele a consagra e ela o inspira…

As criações de José Lima prestam, dessa maneira, um grande serviço em prol da cultura artística nacional.

Carlos Lima
Publicado no Jornal A TARDE.
Sucursal do Rio de Janeiro, abril de 1961.

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