Jose Lima e José Raimundo

Tio Lima “nos é dado lembrar com alegria”

José Raimundo dos Santos Souza, o primeiro sobrinho, apresenta o seu livro “Não se faz 75 anos todo dia” como “um ponto de preservação da memória, para que a lembrança das coisas não se perca na limitação da memória humana”. Continuando, afirma que “este ponto de memória quer homenagear a todos aqueles que viveram, sonharam as suas esperanças” (…). Dentre tantos, sobre José Lima, escreveu:

Aspas esquerda

JOSÉ LIMA DOS SANTOS é uma daquelas pessoas que nos é dado lembrar com alegria, a saudade vem depois; havia nascido em 23 de agosto de 1922. Compartilhar sua vida foi entrar num lugar onde não havia espaço para nenhum tipo de tristeza. As homéricas noitadas na roda de amigos em Estância, com os sobrinhos de carona, foram inigualáveis; voltava-se dos bares com a alma leve, as mentes livres e os passos soltos, haverão de ser sempre lembradas com contentamento. Quando chegava em Estância, vindo do Rio de Janeiro, onde passava a maior parte do tempo, carregava mais presentes para os irmãos, sobrinhos e outros, de que coisas pessoais. Era ao mesmo tempo desquitado e viúvo; seus filhos eram todos os seus sobrinhos, especialmente os que o acompanhavam nas farras; tinha na irmã Tarcila, viúva com dois filhos pequenos, em cuja casa se hospedava uma espécie de família, com um carinho todo especial, pois houvera sido colega de seminário de José Pedro e muito apoiou o casamento.

Muito espirituoso, dizia que quando morresse queria que colocasse uma lápide em seu túmulo com os seguintes dizeres:

Aqui jaz o pintor José Lima
Muito a contragosto

José Lima havia casado com Lourdes Rocha em Vitória da Conquista, por volta da metade da década de 1940, quando pintava o sobrecéu da matriz da cidade, pouco depois de ter deixado o seminário em Esplanada, casamento que redundou em fracasso, separação e, por fim, viuvez quando Lourdes faleceu em Brasília, na década de 1960, em razão de uma cirurgia.

Casou-se também em Recife, apenas no civil. Deste casamento, de que não sabemos precisar o nome do consorte, foi obrigado a se desquitar por pressão do pai José Cristino, que não o admitia por não ser no religioso e sem o reconhecimento da Igreja Católica atentaria contra os princípios cristãos. A sua grande mágoa foi ter que assumir a condição de réu na separação, admitindo um casamento anterior, bigamia, para facilitar o processo conduzido por um irmão da esposa que era juiz de direito e entendeu as pressões de José Cristino. Imaginava que, sem esta separação, possivelmente o mano frei Caetano não teria sido nomeado bispo, pois achava que a Igreja jamais aprovaria um bispo que tinha um irmão casado com duas pessoas distintas, no civil e no religioso. E acrescentava que a suprema ironia era que o irmão “deixou um rebanho de ovelhas por causa de uma cabra”, me dizia.

Além de inúmeros quadros, geralmente óleo sobre tela, José Lima, pelo que sabemos pintou as igrejas de Altamira (1946), Vitória da Conquista, Patos, Recife, Rio de Janeiro (São Januário), além da sacristia da Igreja da Piedade em Salvador, que foi o seu primeiro trabalho no gênero.

José Raimundo dos Santos Souza
Não se faz 75 anos todo dia
Salvador: Press Color, 2016

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